Na sociedade atual, o autoconhecimento é, por vezes, encarado como um conceito abstrato, associado ao desenvolvimento pessoal ou à procura de bem-estar. Raramente, contudo, o relacionamos com a performance ou o desempenho.
À medida que os níveis de exigência aumentam, a diferença entre um bom desempenho e um desempenho excecional pode residir em algo tão invisível como a capacidade de reconhecer, interpretar e treinar os próprios estados internos — sejam eles emocionais, cognitivos ou fisiológicos. Por vezes, aquilo que é interpretado como “nervos” ou “cansaço” pode ser apenas um alerta do corpo, a sinalizar que algo precisa de ser ajustado: a intensidade do esforço, o foco atencional ou o estado emocional.
Quando um atleta aprende a reconhecer o diálogo interno entre corpo e mente, através dos seus padrões de resposta e sinais físicos, isso permite-lhe não só ajustar em tempo real o seu estado de ativação, como também utilizar esses mesmos elementos para potenciar a sua performance e consolidar aprendizagens a longo prazo.
Atletas que desenvolvem esta sensibilidade interna — ou interocepção — conseguem regular melhor as suas emoções em momentos críticos, gerir de forma mais eficaz as necessidades energéticas do corpo e tornar-se mais resilientes ao stress competitivo. Se outrora prevalecia a ideia de que “sangue, suor e lágrimas” eram o único caminho para o sucesso, hoje compreende-se que a longevidade e a consistência no desporto de alto rendimento exigem equilíbrio entre carga e recuperação — uma dinâmica constante entre mente e corpo.
A grande vantagem é que, tal como se treina a força ou a técnica, também é possível desenvolver esta perceção interna. Práticas como o mindfulness, o biofeedback, o registo regular de sensações e emoções, ou os exercícios de relaxamento profundo são ferramentas eficazes não só para a autorregulação, mas também para o desenvolvimento de competências complementares ao treino físico — e, por vezes, específicas da modalidade — como o foco atencional e a leitura de pistas avançadas, fundamentais para uma vantagem competitiva em contexto de alto rendimento.
No fim de contas, conhecer-se bem — enquanto pessoa e enquanto atleta — não é apenas um exercício de introspeção. É uma competência de desempenho. Uma competência que permite lidar melhor com as exigências do desporto, tomar decisões mais conscientes e sustentar o esforço com equilíbrio, consistência e clareza.
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Autor: Rosana Teixeira